terça-feira, 9 de agosto de 2016

Trilogia da Magia - Dançando no Ar: Nora Roberts

Nora RobertsEleonor Marie Robertson, nasceu em 10 de outubro de 1950 em Silver Spring no estado de Maryland nos EUA. 
Iniciou sua trajetória brilhante na década de 1970, quando ficou presa com seus filhos em uma nevasca (bendita nevasca). Ela disse que com o estoque de chocolate acabando e metros de neve, não tinha mais nada para fazer e começou a escrever seus manuscritos, que posteriormente levou a Harlequin, onde foram rejeitados inúmeras vezes…
Escreve sob pseudônimos como Sarah Hardesty, Jill March e J.D. Robb (que vêm das iniciais de seus filhos e seu sobrenome).
É uma autora de best-sellers românticos e foi a primeira mulher a figurar na Galeria da Fama dos Escritores Românticos dos Estados Unidos (Romance Writers of America Hall of Fame).
Com textos ricos em detalhes, tanto para seus personagens como para as tramas, já publicou mais de 160 romances, a maior parte no gênero suspense romântico, traduzidos para 25 idiomas e editados em mais de 35 países.
É recordista em vendas e algumas de suas obras já foram adaptadas para o cinema e outras para seriados de TV.
Assim, resolvemos prestar uma homenagem a essa grande escritora, que influenciou tantas outras e nos brinda com títulos maravilhosos.
Vamos falar de uma de suas trilogias e escolhemos a Trilogia da Magia, porque a maga na verdade é ela mesma, que nos enfeitiçou com suas criações.
O primeiro livro da série é Dançando no Ar.
“Aldeia de Salem, Massachusetts, Estados Unidos
22 de junho de 1692
Por entre as sombras verdes e escuras das profundezas da floresta, uma hora antes de a Lua nascer, elas se encontraram, em segredo. Em poucos minutos, o dia mais longo do ano iria se transformar na noite mais curta do solstício.
Não haveria celebrações, nem rituais de ação de graças pela luz e pelo calor reconfortante do Sabá de Litha. Esse alto verão era uma época de ignorância e morte.
As três mulheres que se encontraram ali estavam cobertas de medo.
— Trouxemos tudo de que precisamos? — A que era conhecida ali no grupo pelo nome de Ar apertou um pouco mais o capuz, para que nem uma pequena mecha de seu cabelo louro pudesse ser vista na luz difusa do dia que morria.
— O que temos aqui vai servir. — A que tinha o nome de Terra colocou no chão o embrulho que trouxera consigo. A parte dela que queria chorar e se enfurecer pelo que havia sido feito, e pelo que ainda estava por vir, encontrava-se enterrada bem no fundo de sua alma. Com a cabeça curvada, deixou seu grosso cabelo castanho cair para a frente, solto.
— Não há outra saída para nós? — Ar colocou a mão sobre o ombro de Terra, e ambas olharam para a terceira mulher.
Ela estava de pé, magra e ereta. Havia sofrimento em seus olhos, mas por trás deles morava uma firme determinação. Ela, que se chamava Fogo, jogou seu capuz para trás, em uma atitude de desafio. Ondas de cachos vermelhos se derramaram sobre os ombros.
— É por sermos assim que não há outra saída para nós — respondeu. — Eles vão nos caçar como ladras e bandoleiras, vão nos assassinar, como já fizeram com uma pobre inocente.
— Bridget Bishop não era uma bruxa! — disse Terra com um tom amargo, enquanto se colocava de pé.
— Não, e ela afirmou isso diante do tribunal que a julgou e condenou. Jurou diante de cada um deles. Mesmo assim, eles a enforcaram. Foi morta por causa das mentiras de algumas meninas e dos delírios daqueles fanáticos que sentem o cheiro de enxofre em cada partícula do ar que respiram.
— Mas já houve apelações!... — Ar uniu os dedos como uma mulher que se prepara para rezar. Ou implorar. — Nem todos apóiam o tribunal, ou essa terrível perseguição.
— Muito poucos — murmurou Terra. — E já é tarde demais!
— E não vai acabar apenas com uma morte. Eu já vi o futuro. — Fogo fechou os olhos e tornou a visualizar os horrores que as aguardavam, — Nossa proteção não vai durar até o final da caçada. Eles nos encontrarão... E nos destruirão.
— Mas nós não fizemos nada! —Ar deixou as mãos caírem para os lados do corpo. — Não fizemos mal a ninguém!
— E que mal Bridget Bishop fez a alguém? — argumentou Fogo. — Que mal fizeram todas as outras acusadas que estão à espera do julgamento? Que mal fizeram ao povo da Aldeia de Salem? Sarah Osborne morreu em uma prisão de Boston. Por qual crime? — Seu gênio forte transparecia pelo jeito de falar, quente e aguçado, e era rejeitado na mesma hora. Até mesmo naquele momento, ela se recusava a deixar seu Poder ser manchado pela raiva e pelo ódio. — O sangue delas está nas mãos desses Puritanos. Estes... Pioneiros. Fanáticos, é isso que são, e vão trazer uma onda gigantesca de morte antes que a sanidade e a razão consigam retornar.
— Se ao menos pudéssemos ajudar...
— Não podemos impedir isso, irmã.
— Não, não podemos! — concordou Fogo, assentindo com a cabeça para Terra. — Tudo que podemos fazer é tentar sobreviver. Sendo assim, temos que abandonar este lugar, o lar que construímos aqui, as vidas que poderíamos ter levado aqui. Largar tudo e começar de novo.
Com carinho, encaixou o rosto de Ar em suas mãos abertas e completou o que dizia.
— Não lamente nem sinta pesar pelo que jamais poderá acontecer... Em vez disso, celebre aquilo que virá. Nós somos as ”Três Irmãs” e jamais seremos derrotadas neste lugar.
— Mas estaremos sozinhas.
— Estaremos juntas!
E, sob aqueles últimos raios do dia, formaram um círculo. Um... Dois... Três. Labaredas surgiram da terra e formaram um anel de proteção em volta delas. O vento fez aumentar as chamas e as levou até bem alto.
Dentro do círculo mágico de fogo, elas formaram outro, unindo firmemente as mãos.
‘Aceitando agora o que estava por vir, Ar levantou o rosto para o céu e recitou:
Como a noite toma o dia, esta luz oferecemos
A Verdade aqui e agora será feita, e nisto cremos
Tão fiéis e assim seguindo no caminho do que é certo
Neste círculo de três, sou o ”um” no céu aberto.’
 Terra, com ar desafiador, levantou a voz:
‘Esta hora é nossa última a pisar sobre este solo
Com a Força e sem lamentos, nos lançamos em teu colo
Passado, Futuro, e, agora, não serei mais encontrada
Neste círculo de três, sou o ”dois” nesta jornada.’
 Fogo levantou as mãos unidas bem no alto e gritou:
Entregamos nossa Arte e a ninguém fazemos mal Longe da morte e do medo nessa viagem astral A caçada começou, e vamos embora de vez O Poder viverá livre, no círculo em que sou o ”três”.
O vento se contraiu e expandiu. A terra tremeu, e as chamas do fogo mágico se elevaram para o céu através da noite. As três vozes se elevaram em uníssono:
‘Longe do ódio infame, que esta terra se desprenda
E se levante no ar, levando-nos desta contenda
Entalhe a rocha, as árvores, a terra e o rio
E afaste o medo, a morte, o escárnio, o desvario
Nos carregue pelo ar em um raio de luar
Por sobre os rochedos e, mais adiante, sobre o mar
Separadas do continente nesta noite de verão
Carregadas pelas nuvens e criando um novo chão
No meio do mar cresça o grão, longe da peleja
Que uma ilha ali se forme... E que tudo assim seja!’
E ouviu-se um ribombar na floresta, uma torrente em redemoinho de vento, um selvagem corcovear de fogo. Enquanto aqueles que perseguiam o que jamais conseguiram compreender dormiam calmamente em suas camas, uma ilha imensa se recortou do solo e se ergueu em direção ao céu, girando loucamente em direção ao mar.
Acomodou-se longe da costa, serena, sobre ondas calmas. E teve ali seu primeiro sopro de vida naquela noite mais curta do ano.”
Assim, tem início o livro que conta a história de Nell Channing, que chega à Ilha das Três Irmãs, acreditando finalmente ter encontrado um lugar onde poder refazer sua vida.
Nell está numa jornada durante oito meses, fugindo da violência enlouquecida de  seu marido.
Nesta busca pela segurança e paz ela consegue emprego na lanchonete da livraria local e inicia um flerte com o xerife da ilha, Zack Todd.
“Foi essa a primeira impressão que Zack teve dela. Uma linda loura que usava um avental branco, um sorriso com um quilômetro de largura e covinhas. A imagem lhe proporcionou um arrepio rápido e agradável, e seu próprio sorriso cintilou em resposta.
— Já tinha ouvido falar dos bolinhos, mas ninguém havia me falado do sorriso.
— É que o sorriso é grátis. Pelos bolinhos, você vai ter que pagar.
— Vou levar um. De amora. E um café bem forte para viagem. Meu nome é Zack. Zack Todd.
— Eu me chamo Nell. — E despejou o café em um dos copos para viagem. Ela não precisava olhar para ele com o rabo do olho. A experiência lhe ensinara olhar para um rosto uma única vez, mesmo de relance, e se lembrar de todos os detalhes. O rosto dele ainda estava gravado em sua mente enquanto enchia o copo.
Bronzeado, com linhas suaves que saíam, divergentes, das pontas de argutos olhos verdes. Uma mandíbula firme com uma intrigante cicatriz em diagonal. Cabelos castanhos, um pouco compridos, ligeiramente encaracolados e já ligeiramente queimados nas pontas pelo sol de verão. Um rosto estreito com um nariz longo e reto, uma boca que sorria com facilidade e exibia um incisivo ligeiramente torto.
Pareceu-lhe um rosto honesto. Sereno, amigável. Ela colocou o café sobre o balcão, lançando outro rápido olhar enquanto puxava um dos bolinhos de cima da pilha na bandeja.
Ele tinha ombros largos e braços fortes. A camisa estava com as mangas arregaçadas e também ligeiramente desbotada, talvez pelo sol ou pela água. A mão que segurou o café era grande e larga. Nell tinha a tendência de confiar em homens de mãos grandes. As mãos delgadas, macias, bem tratadas por manicures, essas eram capazes de golpear de forma letal.
— Vai levar um bolinho só? — perguntou, enquanto colocava o pedido em um saco.
— Um só vai me satisfazer, por agora. Ouvi dizer que você acabou de chegar à ilha, ontem de manhã.[...]”
Nell estava para descobrir muito mais coisas, além de que sua capacidade de se interessar por outro homem não fora abalada. E, nesse percurso manter uma parte sua que jamais poderá ser revelada, pois para se manter segura alguns segredos devem ficar no passado e este mantido à distância.
“Acabando de beber a água, Nell saiu da cozinha e entrou na loja exatamente no momento em que Mia se virava para trás. O relógio na praça começou a bater as doze badaladas do meio-dia, com tons lentos, pesados e poderosos.
O chão sob os pés de Nell começou a tremer, e as luzes da loja ficaram de repente mais fortes e brilhantes. A música encheu completamente a sua cabeça, como se as cordas de mil harpas estivessem tocando em uníssono. Sentiu então o vento. Podia jurar que sentira um vento quente soprar sobre o seu rosto e levantar-lhe os cabelos. Sentiu por fim um forte cheiro de cera de vela e de terra fresca e molhada.
O mundo estremeceu e girou, para logo em seguida posicionar-se no lugar certo de volta, como se jamais tivesse se movido. Balançando a cabeça para clarear as idéias, Nell se viu fitando os olhos cinza-escuros de Mia, frente a frente.
— O que foi isso, Mia? Um terremoto? — No mesmo instante em que dizia isso, Nell reparou que ninguém mais na loja parecia preocupado. As pessoas estavam andando de um lado para o outro normalmente, sentavam-se, conversavam, tomavam chá. — Eu pensei... Eu senti...
— Sim, eu sei. — Embora a voz de Mia fosse calma, havia um caráter incisivo que Nell até então não conhecera. — Bem, isso explica tudo.
— Explica o quê? — Abalada, Nell agarrou o pulso de Mia e sentiu uma força poderosa que lhe subia pelo braço.
— Vamos conversar sobre isso, mais tarde. É que a barca de meio-dia acabou de atracar. — Ripley estava de volta, pensou consigo mesma. Elas, as três, estavam todas juntas na ilha, agora. — Vamos ter muito trabalho pela frente. Vá servir a sopa, Nell — completou gentilmente, e saiu.
Mia não se deixava pegar de surpresa com facilidade, e não se preocupava o tempo todo com essas coisas. A força do que sentira e experimentara com Nell, porém, tinha sido mais intensa e mais profunda do que esperara, e isso a deixou um pouco perturbada. Ela deveria estar preparada. Ela, mais do que qualquer outra pessoa, sabia, acreditava e compreendia a reviravolta que o destino tinha dado, há tantos anos... E a nova reviravolta que poderia dar agora.”
Quando tudo parece estar funcionando, uma nova tormenta se aproxima e ela vai precisar mais que nunca de suas “novas” e amadas amigas Mia e Ripley, pois também descobre que a tão pacata e adorada ilha que escolheu para ser seu lar está sob uma terrível maldição, que só poderá ser quebrada pelas descendentes das Três Irmãs.
Muita beleza, magia, encontros e reencontros é o que está nesse caldeirão encantado que nossa Maga mestra Nora Roberts preparou para esta trilogia que é um encanto.
Fico por aqui, desejando a todos excelente dia.
Fiquem bem e Carpe Diem!
Tania Lima


segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Irmandade da Adaga Negra - Amante Sombrio: J.R. Ward


Assim, hoje vou falar sobre as minhas impressões sobre sua majestade Wrath, filho de Wrath. 
Meu primeiro contato com o Rei Cego foi por acaso, pois estava procurando outros títulos da Linda Howard; já tinha lido praticamente todos seus textos. Estava com aquela sensação de abandono que normalmente tenho quando termino um livro e não tenho outro para continuar minha overdose literária. Já mencionei aqui meu receio de experimentar outros autores, pois já aconteceu de começar um livro e ter simplesmente um bloqueio, não progredir de jeito nenhum com leitura. Acho broxante ter que abandonar um livro, mas, francamente, existem alguns que pela deusa!
Enfim, numa dessas minhas expedições exploradoras virtuais encontrei o antigo blog da Lillith, onde havia um universo de livros que me deixou vesga. Encontrei o que procurava e ainda mais. Percebi que várias vezes era direcionada para os títulos de tal série de livros sobre vampiros guerreiros e, sempre declinava, até que um dia a curiosidade me incomodou. Comecei a ler a respeito e decidi me aventurar no sombrio mundo criado por J.R. Ward. 
Amante Sombrio (Dark Lover), publicado aqui pela Universo dos Livros, simplesmente me levou a ler, num recorde para mim, praticamente 5 livros em pouco mais de 1 semana. Quem conhece a série sabe que os livros têm em média 450 páginas. Ao final do quinto, tive que dar um tempo, pois os olhos doíam e meu recesso já dava adeus.
Desnecessário dizer que adoro a série e, graças ao Rei, adquiri uma nova fantasia: ir a Caldwell procurar por uns cabras vestidos de couro até as presas e dar uns “catiripapos” (é assim que se escreve??) em uns albinos com cheiro de talco vencido.
Wrath é o último vampiro sangue puro dentre os seus e herdeiro do trono de sua raça.
Com um passado de centenas de anos, ele passou por muitas situações, certamente, mas as que aconteceram nos primeiros anos do século XXI, simplesmente o nocautearam.
Estávamos muito acostumados ao estereótipo do vampirão poderoso, praticamente imortal, sedutor, mas que almeja sair fertilizando toda a face da Terra com um monte de filhotes sanguessugas e acabar com a população humana de uma vez. Haja alho e crucifixo. A ideia de ter vampiros andando entre humanos, mas não lhes assombrando também não é inédita; lembro-me muito bem quantas vezes assisti ao sofrimento de Brad-Louis-Pitt em Entrevista com Vampiro (naquela época podíamos assistir a várias seções consecutivas, e ninguém nos punha pra fora), de Anne Rice. Tenho que mencionar aqui também, Mick St. John, da série Moonlight.
Mas vê-los como guerreiros que protegem os indivíduos de sua própria raça, que vive incógnita, contra caçadores que nada têm em comum o Van Helsing, realmente me deixou fascinada.
Sobretudo Wrath, com tudo o que já havia presenciado em seus longos anos de vida, ainda teria e terá (pelo visto) que passar ainda por momentos difíceis, muito difíceis.
Do alto do de seus 2,06 m de altura, seus 123 kg (de puro músculo e ira, como diz seu próprio nome) e uma longa cabeleira negra, o soberano é exatamente isso: SOBERANO. Mas tudo em que acredita, ou não, está prestes a mudar drasticamente, depois da súbita e traumática perda de um de seus mais fiéis e nobres guerreiros. A seguir, o grandalhão precisa lidar com emoções totalmente novas, pois se vê irremediavelmente ligado a uma fêmea (ai, ai, é assim que eles se referem a nós), e como agravante a guria é humana.
Nesse angu, tem mais caroço ainda, pois precisa resolver o que fazer com um humano-cabra-macho-pra-daná, problemas entre seus Irmãos e os seus conflitos internos. Para salgar a massa ainda mais, ele tem que se decidir entre a luta corpo-a-corpo com o inimigo e assumir o trono de uma vez. Não satisfeito com isso, ele ainda vai ter que encarar a mãe (ou sogra???) da raça, uma entidade que criou a vampirada, mas que, para mim, é o verdadeiro espírito de porco da trama.
Enfim, apesar de tudo isso Wrath, que está acostumado a estar sempre sozinho, ser durão o tempo todo e prefere esse estilo de vida, se vê cercado por todos os lados, por pessoas que vão mudar todo o rumo de tudo em que ele acreditava “cegamente” estar destinado a viver.
Por outro lado, descobre que existe algo muito maior, algo que está acima de tudo. Wrath não só descobre que é capaz de amar uma fêmea como também descobre que essa fêmea passa a ser a razão de sua existência.
Amante Sombrio é habitado por personagens únicos, fascinantes. Esse é o primeiro livro desta série que estremeceu o mundo da literatura sobrenatural. Mas ele não fica focado apenas na história de Wrath; aos poucos vamos conhecendo os demais Irmãos e a sua companheira atual e o irmão dela, que é o médico da raça, e um policial que, definitivamente tem seu lugar ao Sol (ou melhor seria à Lua?) e fará muita diferença nesta trama.
Momentos marcantes... inúmeros... sensualidade, erotismo, transbordam – daqueles em que se aconselha usar preservativos nos dedos para folhear as páginas. Eu poderia dizer que o livro é adrenalina pura, mas prefiro usar outro hormônio; este livro é testosterona pura.
Citar um trecho dessa obra é um trabalho hercúleo, pois há diversos que são impagáveis.
Wrath, a princípio me passou uma sensação de voar em sua jugular, não para mordê-lo como acontece nessa história, mas sim para estrangulá-lo. Grosseiro, seco, antipático, anti-social, territorial, com um péssimo humor, mas (caraca eu também sou assim!) ele foi me cativando e me conquistou definitivamente, tanto que não consegui desgrudar da série até os olhos latejarem.
Gosto de todas as passagens, sobretudo quando ele está com um dos Irmãos, com sua amada Beth Randall, com quem descobre coisas impensáveis e, claro, seus momentos com o tal tira Butch O’Neal.
Para dar uma pitada do poder desse guerreiro, só para sentir a pressão:
“– Não confie em mim. Não goste de mim. Não me importo. Mas nunca MINTA para mim – inspirou o ar com força, como se fosse aspirá-la (Beth) junto. – Posso sentir que exala sexo nesse momento (momento tremedeira). Poderia deitá-la nessa calçada (eles estavam na rua, gente!) e meter-me por baixo de sua saia num piscar de olhos. E você não resistiria a mim, não é?... Os lábios dele roçaram o seu pescoço. Depois, passeou a língua ligeiramente sobre sua pele.– Agora, podemos ser civilizados e esperarmos até chegar em casa. Ou podemos fazer aqui mesmo. De qualquer forma, estou louco para estar dentro de você (ui!) outra vez, e sei que você não irá dizer não.”[...]
Ai, meus sais! Eu é que tenho que ficar por aqui, sabendo que quem já leu vai querer reler e quem ainda não leu, vai caçar esse vampiro a todo custo.
Eu, com certeza, vou dar uma nova conferida no arsenal de Wrath, filho de Wrath.
Fiquem bem e Carpe Diem!
Tania Lima

domingo, 7 de agosto de 2016

Revelações: Linda Roward

Estava aqui pensando sobre qual dos meus personagens preferidos eu escreveria para a coluna de hoje e, obviamente deparei-me com mais um impasse. Tenho uma fantasia, que me acompanha há algum tempo, mesmo antes de “cair de quatro” pelos meus amantes literários. Adoraria ter um harém, habitado pelos homens dos meus sonhos. Certamente seria uma vida muito agitada a minha, mas esse tipo de movimento não me faria mal algum, muito pelo contrário.
Um dos habitantes do meu “gigantenorme” lar é Marc Chastain. Por isso, o escolhi para compartilhar meu prazer com vocês hoje.
Marc é detetive do Departamento de Polícia de Nova Orleans que está incumbido de investigar o assassinato de um “morador de rua” que não fazia sentido algum, principalmente depois de checar algumas pistas e chegar à conclusão de que a vítima não era um viciado, ou outro tipo de marginal, e sim um ex-militar.
Ele é um desses caras que exalam competência em seu trabalho. Mesmo seu parceiro, o detetive Antonio Shannon, se surpreende com sua perspicácia e facilidade em conseguir o que quer com as testemunhas.
“Apesar de Shannon trabalhar como detetive há pouco tempo, já havia escutado muita coisa. Chastain era um tanto retraído, mas todos gostavam dele na delegacia. Diziam que ele era o melhor em interrogar testemunhas e suspeitos, pois, quando queria, conseguia ser simpático e gentil, conseguindo acalmar as testemunhas mais histéricas, mas era também bastante durão com os criminosos. Um dos detetives já dissera: ‘Chastain é o tipo de cara que leva uma lâmina consigo.’ Shannon deduziu que, com aquela afirmação, o detetive não se referia ao canivete de bolso que quase todos os homens tinham, mas a uma faca cujo único propósito era servir de arma. Sim, aquela frase descrevia Chastain. Um homem que sabia usar uma faca era ágil e controlado, rápido e mortal. Sahnnon também admirava Chastain. Bastava olhar para ele: obviamente acabara de acordar, estava com a barba por fazer e os olhos inchados, mas vestia uma calça de linho com pregas, uma camisa drapeada e uma jaqueta creme. Até mesmo seus sapatos, sem meia, pareciam ter sido escolhidos com cuidado. Isso sim era ter estilo.”
Pois é, este detetive estiloso e competente e um dos personagens de mais um dos grandes textos da minha dileta Linda Howard, Revelações (Kill and Tell), editado aqui pela Bertrand Brasil. Sim, já mencionei este romance aqui, quando falei sobre John Medina, mas não descrevi Marc, apenas citei um dos romances no qual JM figurava. Desta vez, o assunto é Marc, que protagoniza esse romance policial ao lado de Karen Whitlaw.

Essa história envolvente, emocionante e surpreendente ambienta-se em algumas cidades bastante conhecidas dos EUA, mas é em Nova Orleans que Karen e Marc se conhecem, quando ele a informa sobre morte de seu pai e solicita que ela vá até a cidade para reconhecer o corpo.
A princípio detetive recebe a enfermeira com reservas, pois, segundo ele mesmo é inadmissível que a família permita que um de seus membros viva e acabe de maneira tão abandonada.
Karen, por sua vez, havia anos não tinha contato com seu pai, e é com bastante surpresa que recebe a notícia de sua morte através daquela voz, que mexeu tanto com ela numa simples mensagem telefônica.
Assim, Karen embarca no primeiro voo para encontrar com o detetive em NO.
“Ela abriu a porta e seu estômago revirou-se novamente, dessa vez por nervosismo puro, ao ver o homem ali levantado. O detetive Chastain não era como ela esperava. Não era um homem de meia-idade, nem barrigudo tampouco calvo. Devia ter trinta e poucos anos. Dava a impressão de ser alguém que já havia visto um pouco de tudo na vida e que não mais se surpreendia. Seus cabelos grossos e pretos eram bem curtos e as sobrancelhas grossas arqueavam-se sobre os olhos brilhantes. Sua pele era morena e a barba por fazer, escura. Um pouco mais de um metro e oitenta, ombros largos, braços musculosos; parecia do tipo durão, talvez até malvado. Algo nele a assustava, e ela quis fugir. Apenas os anos de disciplina adquirida a impedira de tomar tal atitude. Marc ficou em pé observando Karen Whitlaw entrar em sua sala cheia de coisas. Ele tinha o talento natural de policial de medir as pessoas de cima a baixo, e o usava naquele momento, estudando-a com os olhos que nada revelavam, ao mesmo tempo em que assimilava todos os detalhes a respeito dela. Se ela estava triste pela morte do pai, não demonstrava. Sua expressão deixava claro que ela não gostava de nada daquilo, mas que precisava lidar com a situação e seguir sua vida.”
Essa é mais uma das grandes facetas de Linda Howard: criar personagens oponentes, desafiadores, fortes e em equilíbrio, por mais fragilizados que possam estar.
Quando leio um livro pelo qual me apaixono, dificilmente consigo lê-lo apenas uma vez. Sou meio maníaca com os meus livros, sinto saudades dos personagens, de suas histórias, seus defeitos e de suas virtudes. Não consigo escolher um para dizer que é o meu preferido, nem um trecho que mais goste. O que posso fazer é destacar alguns momentos que são muito vívidos, tristes ou hilários.
Um exemplo de situação que repasso várias vezes em Revelações é o momento em que Marc assiste à autópsia do pai de Karen.
“Marc assistiu à autópsia sem se abalar. Tinha estômago forte e nunca vomitava, como alguns detetives. Como os médicos-legistas, ele conseguia ignorar os odores e se concentrar no que o corpo mostrava. Era uma boa qualidade para alguém da área de homicídios, como ele. [...] ─ Você está me irritando, Chastain – o legista disse, desligando o microfone para que suas palavras não fossem gravadas. Ele era um homem ocupado, impaciente e irritado, e raramente falava com os detetives que assistiam às autópsias. Marc ergueu uma sobrancelha, esperando que ele explicasse. ─ Esse seu jeito. – O legista apontou o bisturi sujo em sua direção. ─ Você só fica aí, parado feito uma pedra e, ao mesmo tempo, ativo. Não me interrompe para fazer perguntas, não fica verde, nem vomita, só observa. Que coisa! Você mal pisca! O que você faz? Entra em transe? ─ Se tiver perguntas, eu as farei quando você terminar – ele disse de um modo educado. O bisturi entrou em ação de novo. ─ Você ainda está fazendo isso. Não mudou a expressão do seu rosto. Faça-me o favor: comporte-se como um ser humano, antes que eu pense que você é um robô. – Atrás dele, sua assistente disfarçou uma risada. ─ Se estiver em dúvida, quando você terminar, pode me ver mijando. – A resposta foi dada no ato, e dessa vez a assistente não conseguiu segurar o riso. ─ Obrigado, mas recusarei essa maravilhosa oportunidade. ─ Não faço esse convite a qualquer pessoa. Você foi o único homem que o ouviu, por isso talvez queira pensar melhor. Mas não confunda minha orientação sexual. Por trás de sua máscara, os olhos da assistente brilhavam (os meus também). O legista lançou-lhe um olhar desconfiado. ─ Nem pense em ser voluntária para a tarefa. ─ Tarde demais – admitiu ela, rindo. Marc piscou para ela. ─ Esqueça o que eu disse – o legista disse e voltou a ligar o microfone, colocando um fim à conversa. Que pena! Marc tinha gostado de alfinetá-lo, e evidentemente a assistente se divertira também. Foi a primeira vez que Marc viu o médico carrancudo interromper uma autópsia para fazer um comentário pessoal. Só para irritar, ele colocou as mãos nos bolsos e começou a chacoalhar algumas moedas. Dois minutos depois, o microfone foi desligado mais uma vez. ─ Esqueça o que eu disse – o legista voltou a dizer. – E pare de chacoalhar essas moedas. Que droga! Até parece que você é o Papai Noel. Marc deu de ombros e tirou as mãos dos bolsos, mas seus olhos mostravam que ele estava se divertindo.”
Revelações está recheado de momentos inesquecíveis, sobretudo depois que ele passa a conhecer melhor Karen, a quem passou a ajudar antes, durante e depois do funeral de seu pai. Apesar de vários momentos de tensão e muito suspense. Marc garante os momentos de descontração e, claro, elevação da temperatura abaixo do umbigo.
Um desses momentos é quando ele a convida para sua casa, para descansar após o funeral e Karen percebe outro lado seu.
Ele havia trocado de roupa, livrando-se da gravata e trocando a calça social por uma jeans surrada. Estava descalço e apesar de ainda vestir a camisa branca, havia deixado as pontas para fora, amassadas onde antes estavam dentro da calça preta. Também abriu alguns botões, de modo que ela estava abotoada apenas no meio de seu peito. Um peito largo e peludo, ela percebeu, ainda sonolenta. Ótimo.
Ele colocou os pés descalços na grade da varanda, suspirando ao relaxar. ─ Tire os sapatos – ele sugeriu. [...] Seus pés estavam lado a lado na grande, e ela os observava com interesse, surpresa com tantas diferenças. Os dela eram bem menores e finos, delicadamente formados, definitivamente femininos. Os dele eram grandes, ossudos, com um pouco de pêlos na parte de cima. Masculinos. Interessantes. ─ Você sabe por que os pés dos homens são tão diferentes dos das mulheres? – ela perguntou. Ele moveu o pé esquerdo, deixando-o ao lado do direito dela, observando-os. Virando um pouco a cabeça, disse: ─ Unhas pintadas. Se ele estivesse perto o bastante, ela lhe teria dado um cutucão. ─ Não. É porque os homens corriam descalços, à caça de antílopes e outros animais. Ele riu, uma risada de verdade, emitindo um som profundo e deliciosamente masculino. ─ Então os pés das mulheres permaneceram belos porque elas só tinham de caminhar e colher frutinhas. ─ E carregar os filhos. – Ela queria ouvi-lo rir mais uma vez. Quase se arrepiou de novo, dessa vez de prazer. Ele relaxou os ombros largos na cadeira. ─ Bem, seria difícil caçar animais e carregar filhos e arpões. ─ Desculpas e mais desculpas. Tudo para poder se esquivar de cuidar das crianças... Não disseram mais nada por alguns instantes... ─ Dance comigo - ele disse delicadamente, levantando-se esticando a mão para ela. [...] A mão forte de Chastain percorreu devagar suas costas e parou delicadamente sobre sua nuca, enquanto a outra escorregou para baixo. De algum modo o toque não exigia nada dela. Estava apenas acariciando-a. a sensação era muito boa. Marc levantou a cabeça dela, com a mão firme em seu pescoço. Ela viu a curva sensual dos lábios dele e logo foi beijada, um beijo calmo, fazendo-a fechar os olhos novamente. Os lábios dele eram macios, moldando os dela sem usar a língua.De repente, ela quis mais. Queria senti-lo melhor. Mas gostava do que estava recebendo, era o melhor beijo de sua vida, por isso permitiu-se se perder naqueles beijos suaves. E percebeu que havia se aproximado mais, com o quadril pressionado ao dele..."

Um homem divertido e forte, capaz de momentos íntimos tão intensos e malabarismos sexuais de nos deixar sem fôlego. Embora não se trate de um texto erótico essencialmente, Marc garante muita excitação e fertiliza nossa imaginação de maneira estonteante, motivo pelo qual esse livro, entre outros, deveria ser vendido com a solicitação da carteira de identidade ou com uma tarja indicativa para maiores de idade.
Este é mais um dos meus amantes mais quentes, meu “concubino” constante. Marc Chastain, um detetive que não abre mão de ver um caso solucionado e que será, definitivamente, onde Karen – forte, independente e real – encontrará ajuda para resolver um crime que, de uma forma trágica os uniu.
Viciante.
Fico por aqui, desejando que Marc venha me visitar esta noite e prometendo trazer mais um dos meus queridos amantes literários na próxima semana.
Fiquem bem e Carpe Diem!
Não se acanhe!

Tania Lima

sábado, 6 de agosto de 2016

Série Fallen Angels - Cobiça - J.R. Ward

Quem acredita em anjos?
Eu tenho fases: às vezes acredito, às vezes não, às vezes sequer penso nisso.
Acredito mesmo é que não temos como descrever exatamente esses seres, assim nos resta observar a descrição que outros fazem.
Este é o tema do livro que escolhi para hoje, onde conhecemos Jim Heron e Vin di Pietro. Ambos têm suas vidas alteradas de uma maneira que poucos poderiam acreditar ser possível. E seus destinos se cruzam de maneira fatal.
Estou falando de Cobiça da série Fallen Angels, (Covet) da J.R. Ward. Neste livro, Ward aborda um assunto, em nada inédito, porém com sua peculiar destreza em criar personagens intensos, cenários riquíssimos e um enredo hipnotizante.
Para começar, o que vemos é um acordo sobre uma disputa entre o bem e o mal. E a autora faz uma analogia com os esportes.
“[...] A Terra era o campo e o jogo começou assim que o estádio terminou de ser construído. Os Demônios eram o Time da Casa. O Visitante era composto por Anjos que representavam a felicidade e o Paraíso. Cada alma era um zagueiro no campo, um participante na luta universal do bem contra mal, e placar refletia o valor moral relativo das ações de uma pessoa na Terra. O nascimento era o chute inicial e a morte o final da partida – ao passo que a pontuação seria acrescentada conforme o maior registro dessas ocorrências. Os treinadores ficavam na beirada do campo, mas eles poderiam colocar diferentes jogadores para completar o time junto com os humanos, para influenciar as coisas – e também era permitido qye pedissem um tempo para conversar com o jogador. Algo muito conhecido como ‘experiência de quase morte’. O problema era o seguinte: o Criador estava ficando entediado, como se fosse um espectador que assistisse a um jogo fora de temporada em um lugar duro e frio, cheio de cachorros-quentes no estômago e com alguém gritando o tempo todo em seu ouvido. Erros de passe demais. Intervalos demais. Prorrogações demais. Era evidente, aquilo que começou como uma competição emocionante tinha perdido seu apelo, e os times receberam o aviso: terminem com esse jogo, rapazes.Então, os dois lados tiveram que concordar em ter um zagueiro específico. Um zagueiro e sete jogadores. [...]”
Jim Heron foi o zagueiro escolhido para este jogo em que a contagem de pontos será realizada pela quantidade de almas que ele conseguir resgatar.
Jim Heron, um cara que “viveu sua vida seguindo o código de permanecer afastado das pessoas e esperava que elas o deixassem seguir sua rotina de ‘sou uma ilha’. Desde que saiu do exército, ficou vagabundeando por aí, até que parou em (adivinhem) Caldwell, mas só porque foi ali que o carro parou – e planejava pegar a estrada de novo depois de terminar o projeto pelo qual estavam trabalhando”.
Na noite em que completa 40 anos de idade ele tem sua vida totalmente transformada, ainda que ele não faça a menor ideia disso.
Nesta história conhecemos personagens novos e enigmáticos, mas também podemos ver locais e personagens de uma outra série de livros da Ward. Quem já leu, sabe do que estou falando. Não por acaso, a história se passa em Caldwell (NY). Mas não pensem que trata-se de uma extensão da outra série, não mesmo!
A primeira missão de Jim será salvar o milionário Vin di Pietro, homem que conquistou toda sua fortuna com trabalho, árduo, mas que teve uma ajuda especial da qual ele pouco se lembra e não tem noção de quão perigosa é.
Vin, claro, tem tudo o que o dinheiro pode adquirir, incluindo um puta apartamento duplex em um condomínio valorizadíssimo (uma maçã envenenada para quem descobrir qual é) e está decidido a pedir a mão de sua namorada atual em casamento, mas uma percepção, que o leva de volta a seu passado, freia seu impulso para realizar o pedido.
Esses dois homens são o foco do texto de Cobiça, mas outros personagens têm grande importância na trama toda. Mais uma marca do estilo de Ward, não se deter em uma história apenas, mas criar outras que, ainda que paralelas, dão um tempero a mais em suas histórias. E ela consegue fazer vários links entre as histórias e as personagens, mesmo aquelas que são da outra série.
Mais uma vez ela é generosa nas descrições sensuais e ambientais, fertilizando demais nossa imaginação. Uma dessas descrições muito interessantes, por sinal, é sobre os Anjos que escalam Jim, num momento em que ele está inconsciente, e fazem o comunicado a ele.
— Nigel, você é um exibicionista. Jim franziu a testa na escuridão que o rodeava. A voz com sotaque britânico veio de cima, à direita, e a tentação imediata era abrir os olhos, levantar a cabeça, e ver o que estava acontecendo. Seu treinamento deteve o impulso. Graças a sua passagem pelo exército, tinha aprendido que quando voltava a si e não sabia onde estava, era melhor fingir inconsciência até ter alguma ideia do que estava acontecendo. Movendo-se de maneira imperceptível, ele abriu as mãos e apalpou o que estava à sua volta. Ele estava sobre algo macio, mas era flexível, como se fosse um tapete felpudo muito bem cuidado ou... grama? [...] Jim abriu os olhos. O céu sobre sua cabeça estava salpicado de nuvens de algodão fofo e, embora não visse o sol, o resplendor que via era o de um domingo de verão – não só brilhante se sem qualquer sinal de chuva, como se não houvesse nada urgente para fazer, nada com que se preocupar. Ele olhou em direção às vozes... e concluiu que estava morto. À sombra das muralhas de pedra de um castelo, quatro sujeitos com bastões de críquete estavam parados próximos a muitos wickets e borás coloridas. O quarteto estava vestido de branco, um deles tinha um cachimbo, outro usava óculos redondos rosados. O terceiro passava a mão na cabeça de um cão de raça irlandês. E o quarto tinha os braços cruzados sobre o peito e uma expressão entediada. [...]”
Assim, depois de ficar sabendo onde está e quem são os quatro rapazes, Jim fica sabendo sobre sua missão.
Numa mistura de aventura, romance, suspense e uma pitada de terror, acompanhamos nosso herói nessa missão, que não será nada simples, pois tem pouquíssimo tempo para convencer Vin a mudar o rumo de sua vida definitivamente. É uma corrida contra o relógio.
E ele não estará sozinho. Em sua missão contará com o apoio de outros dois anjos.
Uma complicação na operação de resgate de Vin, será adquirir e manter sua confiança, uma vez que Jim havia passado uma noite muito agitada com a pretensa noiva de Vin. Claro que ambos não tinham consciência disso.
Mas vale dizer que Cobiça é o primeiro livro dessa série, que aborda os sete pecados capitais, e que Ward não economiza em surpresas, tensão e incertezas. Não é um livro que tenha um final óbvio. Pelo contrário, nos deixa apreensivos até o final. E, para completar, é uma leitura para homens e mulheres, pois não se trata desses romances água com açúcar, apesar de trazer um herói – Vin di Pietro – que vai precisar da salvação de outro herói – Jim Heron, para salvar sua mocinha.
São dois homens, com problemas como todos nós, que estão muito ligados aos seus passados, mas que têm a chance única de mudar o destino.
Vin está numa verdadeira encruzilhada e precisa tomar algumas decisões que definirão seu futuro. E entre essas decisões está a de se desvincular de seu passado e de conceitos há muito arraigados, mas mostra-se um amante extremante dedicado.
"[...] Antes que ela percebesse, estava de volta em seus braços, e volta a eles e ainda mais próxima. Enquanto eles estavam juntos, alguma coisa ocorreu a ela sobre as escolhas que tinha feito... algo que ela não queria olhar de muito perto, então afastou isso da mente e se prendeu apertado em seu abraço. Erguendo a cabeça para olhá-lo, ela disse: - Fique comigo. Agora. Vin ficou imóvel... e depois com mãos gentis segurou seu rosto. - Você tem certeza? - Sim. Após um longo momento, ele diminuiu a distância entre suas bocas e a beijou doce e lentamente. Ele era tão suave e cuidadoso, acariciando, inclinando sua cabeça para o lado, acariciando um pouco mais. Era melhor do que ela lembrava, porque era melhor do que aquilo que jamais teve. Correndo as palmas das mãos pelos seus braços, ela sentiu como se os dois estivessem suspensos no ar, presos por opção, não capturados pelas circunstâncias. Leve como o contato entre eles era, suave como os lábios dele eram, cuidadoso como as mãos dela eram, o vigor efervesceu entre eles.
Vin recuou um pouco. Ele estava respirando com dificuldade, os músculos do seu pescoço estavam tensos. E não só o pescoço. Quando ele olhou para ela, seus corpo estava ainda mais pronto para o que ia acontecer em seguida..."
Preparem-se para muitas emoções, surpresas e adrenalina, além de uma visita muito agradável de um dos importantes personagens de outra série de Ward. Este é um texto imperdível.
Fico por aqui, desejando a todos um excelente fim de semana!
Fiquem bem e Carpe Diem
Tani@ Lima

sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Mistérios Noturnos: História Familiar - J.R. Ward

A grande maioria dos romances normalmente nos apresenta a seguinte realidade: a mulher como o ser que carece de cuidados, que precisa ser salva de algo ou de alguém. Encontramos uma lista enorme de textos em que somos apresentadas como frágeis, complicadas, carentes, desamparadas; vivendo situações em que precisamos de um salvador, e, quando tudo parece estar perdido, eis que surge o príncipe encantado e somos salvas de todas as nossas vidas infelizes.
O herói que trago hoje, é alguém que para salvar a mocinha, deverá ser salvo antes de tudo. Assim, diferente dos homens que conhecemos no mundo do romance literário, em quase sua totalidade, Michael aparece como uma “Bela Fera” em A História de Filho (The Story of Son), já editado aqui pela Universo dos Livros, como o primeiro dos três romances do livro Mistérios Noturnos, de J.R. Ward, autora da Irmandade da Adaga Negra.
Como os Irmãos, Michael é um vampiro, diga-se de passagem, maravilhoso. E, também como cada um dos Irmãos, tem uma história de muito sofrimento em sua vida; a diferença é que toda sua vida foi determinada e devastada por sua própria mãe.
Esta é mais uma prova da qualidade dos textos de Ward, pois traz personagens fortes, um universo fantástico e, mesmo aqueles leitores que não têm uma quedinha pelos vampiros, certamente se encantarão com essa história curta, mas intensa.
O “Filho”, ou Michael, um macho que nos faz lembrar fisicamente Wrath, só que com os cabelos tipo Phury, vive trancafiado desde a infância por ordem de sua mãe humana (mais para desumana), justamente por sua natureza vampira.
Esse lindo macho, que sequer sabe ou se lembra de seu nome, está confinado há 56 anos e, segue sua vida obscura, acreditando ser merecedor de tal destino, assim como terminará seus dias desse jeito. Até que conhece Claire Stroughton, advogada de sua mãe e sua nova “refeição” e, embora nenhum dos dois pudesse imaginar, destinada a ser sua salvadora.
Tudo acontece a partir de uma visita que Claire faz a sua cliente que, por várias razões, estava impedida de ir de Caldwell, onde reside, até o seu escritório em Manhattan durante um feriado. Durante a visita, a Srta. Leeds sugere que Claire conheça seu Filho. Mas o que ela não imagina é que não se tratava de senhor de idade avançada convencional, já que a Srta. Leeds é uma anciã de aproximadamente 90 anos.
Outra das surpresas que se seguirão será a forma como vai ser apresentada ao tal Filho.
Depois de um chá, ao qual se viu forçada a aceitar por educação, Claire perde os sentidos e, vários minutos a seguir...

“Claire virou-se na cama, sentindo veludo sob as mãos e suave algodão egípcio contra o rosto. Virou a cabeça de um lado para o outro no suave travesseiro, dando-se conta do martelar nas têmporas e que sentia náuseas.
Que sonho tão estranho… a senhorita Leeds e esse mordomo. O chá. O carrinho. O elevador.
Deus, doía-lhe a cabeça, mas de onde vinha esse maravilhoso aroma? Odores densos e sombrios… como uma agradável colônia masculina, uma colônia que ela nunca sentira antes. Enquanto, inspirava profundamente, seu corpo esquentou-se em resposta e percorreu a superfície de veludo com a palma da mão. Parecia pele…
Espere um momento. Não tinha nada de veludo em sua cama.
Abriu os olhos… e ficou olhando fixamente para uma vela. Que estava sobre uma mesinha de cabeceira que não era dela.
O pânico rugiu em seu peito, mas a letargia prevalecia sobre seu corpo. Lutou tentando levantar a cabeça, e quando finalmente conseguiu, tinha a visão imprecisa. Não que isso tivesse alguma importância, já que podia ver mais à frente do que o superficial atoleiro de luz que caía sobre a cama.
Uma vasta e espessa escuridão a rodeava.
Ouviu um misterioso som de algo sendo arrastado. Metal contra metal. Movendo-se ao seu redor. Aproximando-se dela.
Olhou em direção ao ruído, abrindo a boca, um grito formando-se em sua mente só para ficar preso no fundo de sua garganta.
Havia uma enorme silhueta negra ao pé da cama. Um enorme… homem.”
E foi dessa forma que Claire despertou para o que seria um verdadeiro pesadelo, ou talvez sonho.
Assim como ela eu também me apaixonei por Filho, ou Michael como ela mesma começou a chamá-lo, uma vez que tanto o que viu como o que conheceu dele lhe fazia pensar em algo tão etéreo como um anjo.
Presa naquele lugar esquecido do mundo, deveria ficar ali por três dias, até que ele tivesse se alimentado, depois seria solta e sua mente limpa. Mas, diferente de todas as outras mulheres que já estiveram ali, Claire é seduzida por algo que jamais poderia pensar que existisse.

“[...]
— Quero ver seu rosto. Agora.
Houve um longo silencio. Logo ouviu as correntes e ele saiu para a luz.
Claire ofegou, levando as mãos a boca. Era tão bonito como sua voz, tão bonito como seu aroma, tão bonito como um anjo… e não parecia ter mais de trinta anos.
Sua estatura de 1,98 de altura estava envolta em um roupão de seda vermelha que caía até o chão e estava amarrado com um cinto bordado. Seu cabelo era negro como a noite e o mantinha afastado do rosto, caindo em grandes ondas até… Deus, provavelmente até a cintura. E seu rosto… sua perfeição era assombrosa, com a mandíbula quadrada, os lábios grossos, e o nariz reto. Era a síntese da magnificência masculina.
Entretanto não podia ver seus olhos. Mantinha-os baixos, olhando o chão.
— Meu Deus — sussurrou —. É irreal.
Voltou para a sombra.
— Por favor, coma. Precisarei de você novamente. Logo.
Claire imaginou-o mordendo-a… chupando seu pescoço… bebendo o que levava nas veias. E teve que lembrar a si mesma que era uma violação. E que era uma prisioneira contra sua vontade e que estava sendo usada por… um monstro.
Baixou os olhos. Parte das correntes que se deslocavam com ele ainda estava à vista. Era grossa como seus punhos e supôs que estaria fechada no seu tornozelo.
  Definitivamente, ele também era um prisioneiro.
[...]”

Gente, daí em diante é só encantamento, pois vamos descobrindo, assim como Claire, as peculiaridades desse macho; desde sua crença no fato de que é merecedor desse castigo até a perda de sua virgindade.
E, meu povo, eu amo J.R. Ward! Não que minha imaginação já não seja fértil o suficiente, mas a descrição, os detalhes que acrescenta, uau! Conseguem enrubescer a mais sem-vergonhas das periguetes.
Michael nos encanta com suas descobertas, com sua história de vida e nos faz querer ficar trancafiadas com ele e sumir com as chaves.
Por outro lado, mostra-se extremamente correto, honesto e heróico também, não aceitando que Claire o resgate desse seu destino, ainda que totalmente envolvido por ela.
“[...] 
Dimitris Kouloulias
Olhou-o fixamente. Embora fosse enorme, era tão tranquilo, reservado e humilde que não teve medo dele. É obvio que a parte lógica de seu cérebro lhe recordava que deveria estar apavorada. Mas logo pensava na forma como a tinha dominado, sem machucá-la na primeira vez que despertou. E no fato de que ele parecia ter medo dela.
Conservando o olhar nas correntes, disse a si mesma que deveria dar razão aos tumultuados pensamentos em seu cérebro. Essa coisa estava ali por alguma razão.
— Qual é seu nome? — perguntou-lhe.
Suas sobrancelhas baixaram.
Deus, a luz que se derramava sobre seu rosto o fazia parecer algo definitivamente etéreo. E ainda assim, a estrutura de seus ossos era bem máscula, firme e inflexível.
— Me responda.
 — Não tenho um — disse.
— O que quer dizer com não tem um nome? Como é chamado?
— Fletcher não me chama de nenhuma forma. Minha mãe está acostumada a me chamar de filho. Assim, suponho que esse é meu nome. Filho.
— Filho.
Esfregou as coxas com a palma das mãos, de cima para baixo, e a seda vermelha de seu roupão flutuou com elas.
— Há quanto tempo está aqui embaixo?
— Em que ano estamos?
Quando respondeu-lhe, ele falou:
— Cinquenta e seis anos.
Ela perdeu respiração.
— Tem cinqüenta e seis anos?
— Não. Trouxeram-me para cá quando tinha doze anos.
— Meu Deus… — evidentemente tinham diferentes expectativas de vida — Por que o puseram nesta cela?
— Minha natureza começou a impor-se. Minha mãe disse que desta forma seria mais seguro para todo mundo.
— Esteve aqui embaixo todo este tempo? — Devia estar tornando-se louco, pensou. Não podia imaginar estar sozinha durante décadas. Não era de estranhar que não queria olhá-la nos olhos. Não estava acostumado a interagir com ninguém — Aqui embaixo, sozinho?
— Tenho meus livros. E minhas ilustrações. Não estou sozinho. Além disso, aqui estou a salvo do sol.
A voz de Claire se endureceu quando recordou a agradável, pequena e idosa senhorita Leeds drogando-a e atirando-a ali embaixo, na cela com ele.
— De quanto em quanto tempo te trazem mulheres?
— Uma vez ao ano.
— O que? Como uma espécie de presente de aniversário?
— É o tempo máximo que posso ficar antes que minha fome se torne muito intensa. Se esperar mais, morro… difícil de acreditar. — Sua voz era impossivelmente baixa. Estava envergonhado. [...]”

Quando mais nova tive um namorado com quem fiquei por algum tempo, até descobrir que era virgem, o que eu já desconfiava, mas não fazia ideia da minha reação ao confirmar o fato. Não sei se era por imaturidade minha, ou por não estar tão na dele assim, mas acontece que dias depois terminei o namoro.
Hoje, com a experiência de vida que tenho, tenho certeza de que se um Michael aparecesse em minha vida, com tanta coisa linda como esse de Ward, juro, me encarregaria de sua pureza com a maior das paciências, e olhem: se há algo que não tenho é paciência.
Definitivamente, Michael me encantou em tudo. Vocês precisam conhecer esta história de herói e heroina, de descoberta do outro e de auto-conhecimento; certamente também vão querer dar colo a Filho, Michael.
Claire entra para o rol das poucas personagens femininas que me cativaram e Michael (Filho) tornou-se meu amante literário mais doce.
Vou ficando por aqui, já me programando para o próximo delírio literário.!

Beijos e Carpe Diem!

Tania Lima